Friday, September 28, 2007

Escravos conscientes

Acabo de acordar
para mais um dia
no meio deste povo escravo
e já sinto dentro de mim,
o fernezim,
que lá fora se inicia...

de gente que vai
para o emprego,
para as escolas,
para as lojas,
para os hospitais,
de gente
apressada
para tratar
dos problemas
da vida,
que Deus Nosso Senhor
lhes deu.

Se ao menos soubessem
de que Deus falo...

Afinal,
fazemos todos parte
do mesmo rebanho,
os que sabem
quem é
e para onde nos leva
Deus Nosso Senhor,
e os que o seguem,
confiantes,
no "Pão nosso de cada dia".

Pastamos todos
na mesma erva
misturada com cardos;
Sonhamos todos
com verdes prados;
E no final,
é ao mesmo Pastor,
Senhor ou Patrão,
que entregamos
o nosso trabalho
em troca de sustento.

De que nos serve, então,
saber verdades
se somos escravos
como os outros?

De pouco;
enquanto quisermos
continuar escravos.
Mas se um dia
TODOS quiserem
deixar de o ser;
Se um dia dissermos
"NÃO!"
à escravatura,
e procurarmos
sustento pelo trabalho,
em vez de entregar
trabalho em troca de sustento;
Se entendermos
que a terra é de TODOS,
que somos livres
e que livres podemos viver nela,
segurando nós próprios
as rédias da nossa vida,
em vez de as deixar nas mãos
dos galopantes governantes...
então saberemos
que o nosso trabalho
valeu a pena.

Somos escravos conscientes;
estudamos a realidade,
procuramos a verdade,
ensinamos o que aprendemos
e esperamos, que um dia,
as sementes de verdade que semeamos
façam este Povo escravo
que amamos
querer a Liberdade!

Sofia Pedro Lima

Wednesday, June 20, 2007

Passo a Passo

Caminho
passo a passo
sentindo a vida
debaixo dos pés

Que rumo tomo?
Não sei,
decido-o
a cada passo.

Caminharei muito?
Caminharei pouco?
Também não sei...

Apenas seique caminho
e caminharei,
passo a passo,
livremente,
enquanto houver vida
à minha frente.

Sofia Lima

Friday, June 15, 2007

Ser diferente

Nasci
e logo que nasci
separaram-me
de minha mãe.

Fizeram-me
diferente
logo que nasci.

De regresso
aos braços de minha mãe
já não era a mesma.
Dava valor
ao meu ninho
como mais ninguém.

Cresci
com o medo escondido,
da separação…
e diferente,
sempre diferente.

Num mundo de modas
e discriminação,
cresci diferente,
sofri a rejeição.

Nos braços dos adultos
encontrei o conforto,
nos estudos,
o meio de os conquistar.
Na busca do conhecimento
e da poesia…
a felicidade,
a alegria…

Vivi num mundo meu,
feliz com a ceifeira
de pessoa
alegre como criança.

Mas aos poucos,
fui me afastando do outros,
fechei-me nos estudos
e a ansiedade das notas
tomou conta de mim.
O meu mundo deixou
de me satisfazer.
Tinha o desejo de algo
que não sabia bem o que era…

Queria ser aceite.
Queria ser como os outros.

Queria ir ao cinema,
queria ir à discoteca,
queria sair do meu mundo,
queria deixar de ser diferente.

Escondi o meu passado
e fui para a faculdade
com o sonho
de fazer o que nunca fizera:
ser como os outros.

Descobri um mundo novo.
Fiz pela primeira vez
amigos da minha idade.
A minha vida deu uma reviravolta,
mas continuei a ser diferente.

E não se apagou em mim
o desejo de algo
que hoje defino
como convívio.

Tenho um desejo ardente
de convívio…
e também de amor.

Vivo dividida
entre querer ser como sou
e o mudar
para me aproximar
dos outros.

Procuro um equilíbrio
entre os dois,
num mundo
de modas
e discriminação.

Tenho orgulho
em ser diferente.
Não quero ter de escolher
entre o ser como sou
e o resto que tanto desejo.

Ah mundo cruel!
Porque me obrigas a escolher?


Sofia Pedro Lima

Nota: Este poema foi escrito há três meses. É uma descrição perfeita da minha vida até à altura. Depois disso conheci o amor e aprendi a dar valor à minha diferença. A amar a minha diferença. Continuo com o desejo de algo, mas aprendi que é esse desejo me mantém viva, na busca de novas experiências, as experiências da vida. E àqueles que forem diferentes como eu, deixo uma mensagem: Não queiram ser como os outros. É na nossa diferença que está o nosso valor: É justamente essa diferença que temos para oferecer, para partilhar.

Sunday, May 27, 2007

Mãe

Mãe
é aquela
que nos traz ao mundo
que nos prepara
para o mundo;

É aquela
que nos ama
acima de tudo
que está sempre
presente
quando precisamos

É aquela
que nos dá a mão
para que possamos
crescer
e a que a tem de largar
para que possamos
viver

Eu Diamante, tu Rubi

Eu Diamante, tu Rubi,
pedras
deixadas,
achadas
no fundo do ser.

Pedras
marcadas,
talhadas
p'la vida que se quer.

Eu Diamante, tu Rubi,
pedras
cruzadas,
amantes,
reveladas.

Pedras dormentes...
agora acordadas!

Sofia Lima

Farta de palavras

Estou farta de palavras.
As palavras não valem nada,
quando são só palavras,
é certo.

Estou farta de qualquer forma
mas elas saem de mim
como vómitos,
gritam-me aos ouvidos!
Estou farta,
digo-lhes;
Estou farta de vocês!
vão procurar outro poeta!

Vão procurar outro poeta
e deixem-me em paz
no socego
do silêncio.

Friday, April 27, 2007

Medo Não!

Medo,
essa mão que nos esmaga
e nos faz sentir pequenos;

Medo,
essa pressão
que nos empurra
em sentido diferente
do que queremos;

Medo,
essa coisa
que nos moi por dentro
e não nos deixa
fazer o que é preciso;

Medo,
essa prisão do ser
essa faca cortante
que nos separa de nós próprios.

Não!
Não quero mais ter medo!
Eu escolho ser livre!
e sou livre porque posso escolher!

A liberdade
não se conquista
Usa-se!

Como posso ser livre
se não uso a liberdade
para deitar fora
as algemas do medo?!

O segredo
da felicidade
está em ser eu mesma.

Como posso ser
eu mesma
se o medo me domina?

E vocês?
Querem ser livres?
Querem ser felizes?
Então deixem de ter medo!

Desistam de procurar
a segurança,
ela não existe!

Aqui de pé
vos digo
e digo a mim mesma:
Não há liberdade
nem felicidade
enquanto houver medo!
Coragem!
Não deixes que o medo te domine!
Estou contigo na luta contra o medo!

De que tens medo?
De não coneguires o que desejas?
Que te aconteça mal
a ti ou aos outros?
De fazeres mal aos outros?
De seres torturado?
De morrer?
Que matem ou torturem quem tu amas?

Acaso desejas o medo?
Tras-te o medo algo que desejes?
O medo não deixa lutar
pelo que desejas
Se tens medo de não ter o que desejas
começa por ter medo do medo
e manda o medo embora

Achas que o que o medo te faz bem?
O medo faz-te mal!
Se tens medo de que te aconteça mal,
começa por ter medo do medo
e manda o medo embora

Achas que ao teres medo
evitas fazer mal aos outros?
O teu medo transmite-se aos outros
afecta os outros,
pode fazer mal aos outros!
Se tens medo de fazer mal aos outros
ou que aconteça mal aos outros,
começa por ter medo do medo
e manda o medo embora!

Achas que o medo não mata?
Achas que o medo não tortura?
Se deixares de ser tu próprio
achas que não morres?
Conheces maior tortura
que ficar vivo
estando morto?
E se tu tiveres medo
e incentivares
os outros a tê-lo,
não os ajudas a torturarem-se
a si próprios?
A matarem-se,
porque deixam de ser eles próprios?
Se tens medo de ser torturado,
se tens medo de morrer,
se tens medo
que matem ou torturem
quem amas,
começa por ter medo do medo
e manda o medo embora!

Não penses
que és pequeno demais
para deixar de ter medo.
Aquilo que queremos
é mais forte que o medo!

Para deixar de ter medo
basta decidir enfrentá-lo!
Enfrenta-o com coragem,
contínuamente,
e não terás medo!

Porque o medo
não me deixa lutar
pelo que desejo,
porque o medo me faz mal,
porque o meu medo
pode fazer mal aos outros
e porque o medo
nos tortura e mata
ao separar-nos de nós próprios,
ao matar-nos,
deixando-nos vivos,
porque o querer
é mais forte que o medo,
aqui de pé
determino
medo, NÃO!


Sofia Pedro Lima